quarta-feira, 17 de março de 2010

Eu não acredito em contos de fada

Um conto de fadas termina no beijo de um príncipe?

Cansei de gente vendendo finais de conto de fadas nos púlpitos. Talvez possamos ter finais felizes, mas “felizes para sempre? Neste mundo?

Vivo no meio de gente que faz propaganda religiosa ao invés de evangelismo, sem se importar com a opinião do autor do mandamento.

Eles contam sobre a ressurreição de Lázaro, mas nem lembram que Lázaro teve que enfrentar a morte por duas vezes. Quem se aventura a passar por isso?

O perdão dado a Pedro o levou a uma cruz em X, onde morreu de cabeça para baixo. Conta a tradição que ele mesmo pediu isso, por se achar indigno de morrer como seu mestre. O martírio foi peça comum entre quase todos os discípulos. Houveram momentos inesquecíveis com Jesus? Claro! Foi exatamente esses momentos que os fizeram resistir até o fim em seus trágicos finais.

Davi, ainda garoto, é ungido rei de seu povo. Entre este dia e o dia que assume o trono, dez anos depois, nunca teve paz. E mesmo após este momento, quando já era rei, seus amores, filhos, amigos, sempre foram objetos de conflitos e dores.

Paulo, após ser escolhido como vaso pelo próprio Deus – com direito a show pirotécnico na estrada de Damasco – terá em seu histórico tantas prisões, espancamentos, chibatadas e no fim, a pena capital, dada por Nero: decapitação.

O Cristianismo se difere das outras crenças. Como nos lembrou C.S.Lewis, é a única crença que permite chamar Deus de Pai. Isso é exclusividade, mas também é a única que deixa suas criaturas, a quem ama tanto, matá-lo.

Diferente de tantos pregadores atuais, não usava seus milagres como fonte de marketing pessoal, nem tão pouco ensinava que viveríamos em um mundo a parte, um “mini-céu” com seres que, na forma atual, não poderiam povoá-lo. Que seres? Nós! No mundo tereis aflições, e não viver de conforto em conforto, de mansão em mansão, de iate em iate.

Nossa vida – cristã ou não – não oferece trégua:

Viveremos muitas despedidas, lidaremos com afetos se desbotando com o tempo. Receberemos ligações de madrugada com notícias terríveis. Falarão mentiras sobre nossa conduta. E o pior: passaremos grande parte de nossa existência nos imaginado melhores do que realmente somos.

Sabemos que costumeiros vencedores tem menor resistência à derrotas. Se a Palavra nos diz ser mais que vencedores, somos os que deviam saber lidar com os dois lados de um jogo: os que ganham e os que não ganham.

Por isso, Jesus se faz tão importante em nossa alma. Ele fala de construções com bases necessariamente firmes, sólidas, por que tempestades fazem parte das existências. Não apenas ensinamentos, mas Ele próprio se faz necessário nas entranhas de nossa vida.

Não creia que soluções temporais sejam a fórmula da felicidade. A paz que vai na alma daquele que encontrou a Cristo não é justificada pelas situações positivas em sua existência.

Você pode encontrar um desses seres, tranquilos, serenos, lúcidos, e depois saber que perderam um grande amor. “Eles”- que deveria ser "Nós" - não se explicam.

O que você não encontrará são estas ovelhas misturadas a bodes no dia que há de vir. A estes, o Cristo jamais dirá: “Afasta-te de mim, pois nunca te conheci...”

Postou Zé Luís, editor do Cristão Confuso, no Genizah, na esperança que se entenda que o Mestre não veio fazer do Evangelho um conto da Carochinha

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