Uma pequena meditação em Jeremias 45. 1-5
Baruque era um auxiliar do profeta Jeremias. Aliás, o único seguidor e amigo do profeta. Jeremias pregou por quatro décadas, mas somente o nobre Baruque dava ouvidos e escrevia o era declarado por ele. Baruque era jovem e certamente esperava frutos positivos no ministério do grande profeta, mas nada aconteceu. Jerusalém seria destruída em breve pelos babilônicos, e ele poderia perder até a sua vida. Então veio a decepção: “Ai de mim agora, porque me acrescentou o SENHOR tristeza à minha dor! Estou cansado do meu gemido e não acho descanso” (Jr 45.3).
Aqui aprendemos a primeira lição:
1. O crescimento e o sucesso não são necessariamente resultado de uma vida que agrade a Deus
Quantas vezes não estamos como Baruque? Recebemos talentos de Deus, mas não enxergamos os frutos. Sim, muitos vezes estamos cometendo erros que minam as sementes do crescimento; mas também podemos fazer tudo certo, e mesmo assim nada vingar. Simplesmente a vitória não vem. Ficamos tristes como Baruque, pois sempre temos a mania de pensar que fazer a obra de Deus é garantia de sucesso. O Senhor nos faz acordar e lembrar que insucessos fazem parte da vida cristã.
Costumamos julgar os outros talentos pelos resultados. Achamos que quando existe crescimento o talentoso está sendo abençoado por Deus. Ora, muitos crescem sem nenhum compromisso com o Senhor, simplesmente o crescimento é um inchaço sem sustento. Se crescimento fosse garantia de bênção divina, muitas seitas poderiam ser consideradas a essência do cristianismo. E nem sempre um ministério “derrotado”, pequeno e com dificuldades significa desagrado a Deus, mas simplesmente são contingências que fazem os homens sentirem a maturação na vida pelas provas.
Portanto, se você dirige uma grande Escola Dominical, se você dá palestras para multidões, se você prega para milhares, se você é pastor de uma grande igreja, se você é um blogueiro de sucesso, se você é um escritor de best-sellers... Não pense que Deus está abençoado sua vida como fruto de sua piedade, muitas vezes estamos bem longe de Deus e bem próximos do sucesso no ministério cristão.
Jeremias ganhou somente uma alma, como diríamos no evangeliquês, mas foi um dos maiores profetas que passaram por essa terra. Pedro ganhou milhares de almas em um só dia e também foi um dos maiores homens de Deus da história. O importante não são os números, mas a nossa comunhão com Deus. Se somos líderes de um pequeno grupo ou uma enorme catedral, o importante é a comunhão com Ele.
O interessante é que Deus não deixa o jovem desamparado e sem resposta. Mas certamente ele ouve uma declaração que não esperava. O Senhor relembra que é soberano: “Eis que o que edifiquei eu derribo e o que plantei eu arranco, e isso em toda esta terra” (v. 4). Aqui aprendemos a segunda lição:
2. Deus é soberano e sabe o melhor para as nossas vidas
Parece conformismo de derrotados e complexados pela dominadora religião. Não, a doutrina da soberania de Deus não visa a inércia do homem e nem a passividade diante de qualquer injustiça. Agora, a soberania de Deus é um alerta para que a nossa murmuração não avance diante de nossa ignorância. Conhecemos o futuro? A humanidade nasceu em nós? Teremos todas as respostas? É claro que a resposta para cada uma dessas perguntas é um sonora não.
Mesmo não sendo possível que conheçamos todas as repostas, Deus jamais nos impede de fazer as perguntas e buscar algumas respostas possíveis. Baruque estava desesperado e sem respostas. Ele fez as perguntas. Ele ouviu sobre a soberania divina e recebeu a promessa que não seria morto pelos babilônicos. As provas passadas por ele não eram para mostrar a Deus alguma coisa, mas sim para mostrar a ele mesmo a extensão de seu caráter. Como declarou C. S. Lewis perante a morte de sua amada:
Deus certamente não estava fazendo uma experiência com minha fé nem com meu amor para provar a sua qualidade. Ele já os conhecia muito bem. Eu é que não. Nesse julgamento, Ele bos faz ocupar o banco dos réus, o banco das testemunhas e o assento do juiz de uma só vez. Ele sempre soube que o meu templo era um castelo de cartas. A única forma de fazer-me compreender o fato foi colocá-lo abaixo. [1]
Não podemos entender tudo, pois somos mortais. Mas podemos fazer perguntas. Não precisamos cair no conformismo, e nem muito menos na murmuração vazia de alguém daqueles se achamo centro do mundo e manifestam isso no ato do desespero. Sejamos sim, honestos como os nossos sentimentos, mas buscando sempre ao consolo de Deus.
No versículo 5, Deus pergunta para Baruque: “E procuras tu grandezas?”. Aí chegamos em mais uma lição:
3. Não devemos procurar grandezas
Queremos coisas especiais para nós. Queremos o tratamento diferenciado. Queremos grandeza. Buscamos conforto, segurança, saúde, vigor, prazer... simplesmente o tempo todo. Baruque assim também desejou nos tempos mais difíceis na vida naquela nação. Deus ia destruir o que Ele mesmo construiu. Certamente não fazia isso por prazer. Mas ainda assim Baruque pensava na sua satisfação, como qualquer um de nós provavelmente pensaríamos.
Quando buscamos tanto prazer terreno, deixamos de desfrutar do prazer no Senhor. Quando buscamos tantas alegrias no mundo, esquecemos da alegria vinda de Deus. Assim trocamos Jesus Cristo pela banalidade que é a vida. Vivemos constantemente como hedonistas que pensam somente em como aumentar o prazer e satisfação pessoal.
Como igreja evangélica estamos em uma fase horrível. A busca desenfreada pela prosperidade, curas, supostas libertações e modos de vida perfeitos são os venenos que matam a cada dia a vida na igreja brasileira. Os cultos se resumiram em reuniões de autoajuda fajuta, sendo que o Evangelho e a satisfação em Deus vão ficando para trás.
Essa igreja que busca prestígio deveria simplesmente lembrar a oração do salmista: “SENHOR, o meu coração não se elevou, nem os meus olhos se levantaram; não me exercito em grandes assuntos, nem em coisas muito elevadas para mim” (Sl 131.1). Assim, deixaria a bajulação a políticos e outras formas de ganhar fama e poder.
Referência Bibliográfica:
[1] LEWIS, Clive Staples. A Anatomia de uma Dor: um Luto em Observação. 1 ed. São Paulo: Editora Vida, 2007. p 71.
Extraído de Teologia Pentecostal