Danilo Fernandes
Ao ouvir esta declaração corajosa do Rev. Caio Fábio sobre o episódio de “sua queda”, não tive como não olhar para o espelho e perceber em mim mesmo o erro tantas vezes cometido de descontextualizar a humanidade dos pastores com quem já convivi ou convivo hoje, seja de forma consciente ou inconsciente.
Esta declaração é um alerta para os perigos das desHUMANIZAÇÃO dos servos de Deus e a nossa tendência para nos gloriarmos em homens (1Co 3:21).
Se por um lado é importante e desejável ter no pastor um modelo humano do esforço de exercer o cristianismo de forma integral, por outro, é de uma covardia absurda exigir destes servos algo que a natureza comum e pecadora de todos nós homens nos nega por definição.
Contudo, agimos assim.
De uma forma ou de outra é minha responsabilidade, ainda que não intencional, se me permito seguir buscando modelos mais palatáveis de SER SANTO, diante da minha enorme culpa por não conseguir seguir o exemplo da Cruz, por mais que meu coração deseje, minha alma clame e o meu viver se volte para tal.
Caio e caio todos os dias de minha vida, me levanto na certeza do viver sobre a Graça, mas em algum lugar o tentador me faz sentir indigno da Cruz.
Não me glorio na minha eleição. Percebo esta astúcia maligna sobre a vida de todos nós e não me deixo abater por isto, mas não nego a reincidência do erro. E pior: Estou certo de que uma das razões para a manutenção deste meu convívio sofrido com a culpa deriva do fato de, em muitas ocasiões, esta mesma culpa ser benção na minha vida, pois me faz olhar para a Cruz, quando eu insistia em olhar para mim.
Miserável eu sou com a minha culpa. Tanto mais tamanho pecador. Contudo, é justo da minha parte buscar alivio para esta culpa jogando este meu fardo nas costas de meu pastor? Ou não deveria eu jogar aos pés de QUEM realmente pode suportá-lo? (Mt 11:28-30)
Todos os dias somos surpreendidos por escândalos e mais escândalos envolvendo lideres. Crimes financeiros, falsas doutrinas, corrupção e estelionato religioso. Isto sem falar dos “crimes” comportamentais que parecem causar ainda mais embaraço entre a membresia.
Nestes momentos, somos levados a extrema decepção e alguns se desviam da igreja. Um erro causado por outro erro, do qual nós mesmos somos os maiores culpados.
E que fique claro que não falo do erro (escândalo financeiro, ético, etc.) per se, mas do NOSSO erro pessoal de: idolatrar; desHUMANIZAR; colocar em maior conta; os nossos amados líderes, esperando deles, como disse Caio Fábio, uma projeção de nosso ideal de ética, moral, fé, etc.
A responsabilidade de um pastor é imensa e este peso extra colocado pelas ovelhas é um fardo de injustiça!
Devemos lembrar que, no fim das contas, os nossos discipuladores são pecadores como nós. Estão em posição de nós ajudar e pastorear, mas são homens e falhos e, pior, são cobrados e testados em dobro.
Se isto não é nem de longe uma carta branca para que não se toque no ungido, coisa que poucos ainda acreditam, também não nos autoriza a dobrar a carga já pesada destes servos.
Um servo de Deus, que leva á sério o seu ministério e se faz presente na vida de suas ovelhas e de suas lutas e não se rende a estes modismos que fazem encher as igrejas está abraçando uma tarefa imensa, que somente a Graça e a eleição do Senhor podem justificar (e tornar possível).
Nestes meus 14 anos de Evangelho acompanhei a vida de muitos pastores, pastoras, missionários e missionárias que se levantam todos os dias para ser benção na vida de centenas, trabalham (as vezes pagam para trabalhar!) o dia todo, pau para toda obra, e quando chegam em casa e tiram os sapatos, toca-lhes o telefone por conta de um chamado para atender a um irmão doente, um enterro, um desesperado, uma abandonada, etc. Quantas vezes estes chamados urgentes não acontecem quando a presença do pastor era requerida pelos de sua própria casa necessitando de apoio, carinho, presença...
Há muito amor chegando aos líderes, mas há muita fofoca também. Muita maledicência, mesquinharia e, posso dizer, pois não sou pastor: Muitos líderes são sugados (sinto dizer isto, mas tem ovelha que é vampiro mesmo) até o tutano.
Neste processo, cansei de ver servos verdadeiros enfrentando problemas com seus filhos, esposas, parentes, reflexo da extrema cobrança, fofoca, inveja (sabe lá Deus do que, mas tem!) e disputas políticas.
Eu vi famílias desfeitas, filhos que se tornaram ateus e toda a sorte de problemas e, confesso a vocês de todo o coração: Nunca conheci pessoalmente um caso onde o pastor pudesse ser responsabilizado inteiramente por isto, a menos que lhe fosse cobrada coerência a esta capa de super-homem que suas ovelhas lhes imputaram.
Ainda não conheci um único líder que tenha se dado tal envergadura de super-herói, que na verdade não fosse um farsante destes que batemos tanto por aqui. Entrementes, conheci muitos que receberam esta capa de super-homem (ou mulher maravilha), sem pedir e sem desejar, mas a receberam de gente que nunca conseguiu SER e VIVER CRISTIANISMO na essência (no Pai e no Outro) e se projetam no HOMEM, que ainda se muito virtuoso é HOMEM e só.
Não é fácil se livrar desta armadilha. O servo (a) deve, a todo momento, se policiar. Se deixa correr solto, o “manto do sagrado” vira esconderijo até mesmo para a sua família.
Um amigo pastor me disse: Danilo, eu só vivo bem e seguro em minha casa e com minha família, porque dou conta da minha vida a algumas pessoas que me servem de conselheiros em Cristo. Sem isto, caímos todos.
Pastores levam muito “trabalho para casa” e quando o fazem, levam também o “pastor” e o “espiritual” e deixam o “homem”, o “pai” e o “marido” na porta. Eu já ouvi algumas vezes declarações deste tipo: “quantas vezes me vi sendo pastor de minha mulher, presbítero de meus filhos, quando tudo o que eles queriam era o homem e o pai deles.”
Meus irmãos: Ser pastor não é fácil não. Eu não sou pastor, mas sou amigo de uma dezena ou mais. O que eu vejo é exercício constante de humildade no vigiar das atitudes e escolhas. É muito fácil ser dominado pelo orgulho e a soberba destrutiva após um belo sermão. É muito fácil se sentir acima da crítica e das tentações.
A Igreja brasileira enfrenta muitos problemas. Mas é impossível viver sem ela. A congregação deve assumir a sua parcela de responsabilidade. Devemos ser bereianos e vigilantes, como fazemos por aqui (blogosfera), mas também devemos assumir a nossa parcela de responsabilidade na vida de nosso líderes.
Devemos orar pelos nossos pastores, motivá-los, ajudá-los, nos fazer presentes no bom e no ruim. Propondo servir, ao invés de sempre querer ser servido. E aos mais velhos da igreja, que assumam o seu papel de apoiar e ouvir o pastor em suas angústias. O pastor é gente também!
Vamos olhar para CRISTO e para a CRUZ, sempre. E diante dos erros, que todos nós cometemos, devemos ter apenas a Cruz no foco, lembrando que aquele a quem o Senhor confiou a tarefa de nós pastorear é HOMEM.
Este testemunho é apenas um, entre milhares. Apenas ilustra a matéria pela grande relevância do autor. O artigo é dedicado a todos os meus amigos pastores (as), missionários (as) e servos (as) em geral que nos prestigiam aqui no Genizah
Extraído de Genizah